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Sementes de Arapari – Macrolobium acaciifolium

Vendido por: Emergente Florestal
Disponibilidade:

Fora de estoque


Família: Fabaceae (Leguminosae)
Espécie: Macrolobium acaciifolium (Benth.) Benth.
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledoneae)
Ordem: Fabales

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Introdução & Nomenclatura do Arapari

Na imensa planície amazônica, cortada por uma rede infinita de rios, igarapés e lagos, a vegetação desenvolveu estratégias de sobrevivência e de uma beleza admiráveis. O Arapari, cientificamente conhecido como Macrolobium acaciifolium, é um dos mais bem-sucedidos e emblemáticos exemplos dessa adaptação. Seu nome popular, Arapari, de sonoridade indígena, designa esta árvore que frequentemente forma extensas florestas monodominantes nas margens dos rios, os “arapariais”. É uma árvore que define a paisagem das florestas inundáveis, uma presença constante e vital para a saúde desses ecossistemas. Conhecer o Arapari é mergulhar em um mundo onde a vida pulsa no ritmo das águas, é entender como uma árvore pode ser tão intimamente ligada a um rio que sua própria perpetuação depende das cheias e das vazantes. É uma lição sobre a profunda e inseparável conexão entre a floresta e suas águas.

A nomenclatura científica, Macrolobium acaciifolium (Benth.) Benth., nos oferece pistas sobre suas características e sua história. O gênero Macrolobium, pertencente à nobre família das leguminosas (Fabaceae), tem seu nome derivado do grego, da junção de “makros” (grande) e “lobos” (lobo ou vagem), em uma provável alusão ao formato de seus frutos. O epíteto específico, acaciifolium, significa “com folhas de acácia”, uma referência à sua folhagem composta, com numerosos pequenos folíolos, que lembra a de algumas acácias. No entanto, como veremos, a folha do Arapari possui uma característica única que a torna inconfundível. A história taxonômica da espécie a viu ser classificada primeiramente no gênero *Vouapa*, sendo *Vouapa acaciifolia* seu basônimo e sinônimo mais importante. Estudar o Arapari é valorizar um dos principais engenheiros de ecossistemas da Amazônia. É reconhecer uma árvore que, com sua presença massiva, cria habitat, protege as margens contra a erosão e sustenta uma riquíssima fauna aquática e terrestre. Cada semente de Arapari é um pequeno barco, uma promessa de vida que viaja com as águas para criar novas florestas nas margens do futuro.

Aparência: Como reconhecer o Arapari

A identificação do Arapari na paisagem amazônica é facilitada por sua preferência por ambientes aquáticos e por características muito peculiares de sua folhagem. A Macrolobium acaciifolium se apresenta como uma árvore de porte médio, que geralmente atinge de 10 a 20 metros de altura, com uma copa ampla, densa e muitas vezes espalhada sobre a superfície da água. O tronco é geralmente tortuoso e revestido por uma casca de cor acinzentada a castanha. Em áreas permanentemente ou longamente inundadas, a árvore pode desenvolver raízes adventícias e outras adaptações para a aeração de seu sistema radicular.

A folhagem do Arapari é o seu principal traço distintivo e de grande beleza ornamental. As folhas são compostas paripenadas, ou seja, formadas por 10 a 15 pares de folíolos, sem um folíolo terminal. Os folíolos são pequenos, de formato oblongo a lanceolado, com a base assimétrica. Mas a característica mais notável e que permite uma identificação segura é a presença de uma raque foliar alada. Isso significa que o eixo central da folha, onde os folíolos se inserem, possui expansões laminares, como pequenas asas, entre os pares de folíolos. Esta “espinha dorsal alada” confere à folha uma aparência única e muito elegante. A floração ocorre em inflorescências do tipo racemo, que são cachos que surgem nas pontas dos ramos. As flores são de uma beleza complexa. Elas possuem cinco sépalas, mas são as pétalas que se destacam. A corola é formada por uma única pétala grande e vistosa, de cor branca ou rosada, e outras quatro pétalas muito pequenas ou ausentes. A única pétala desenvolvida é unguiculada, ou seja, possui uma base longa e estreita, como uma unha. O androceu, com seus 3 estames, também é característico. Após a polinização, formam-se os frutos, que são a chave para sua estratégia de dispersão. O fruto é um legume nucoide, ou seja, uma vagem lenhosa e dura, de formato achatado e assimétrico, que contém de uma a poucas sementes. Esta vagem é indeiscente (não se abre sozinha) e, por ser oca e lenhosa, possui uma grande capacidade de flutuação.

Ecologia, Habitat & Sucessão do Arapari

A ecologia da Macrolobium acaciifolium é uma das mais fascinantes e especializadas entre as árvores amazônicas, uma história de total simbiose com o regime das águas. O Arapari é uma espécie que domina as florestas inundáveis da Bacia Amazônica. Seu habitat exclusivo são as Florestas de Igapó (inundadas por rios de água preta, ácida e pobre em nutrientes) e as Florestas de Várzea (inundadas por rios de água branca, rica em sedimentos). No Brasil, ela ocorre em todos os estados do bioma Amazônia. Ela é uma das poucas espécies de árvores capazes de formar povoamentos quase puros, ou monodominantes, em longas extensões das margens de rios e lagos, criando as famosas florestas de “arapariais”. Esta dominância indica uma adaptação fisiológica e competitiva extraordinária às condições de inundação prolongada, que seriam letais para a maioria das outras espécies de árvores.

No que tange à sucessão ecológica, o Arapari é considerado uma espécie clímax dentro de seu ecossistema específico de floresta inundável. Ele representa o estágio final e estável da vegetação nesses ambientes. Sua estratégia de vida é a da persistência e da dominação do espaço através de uma adaptação superior às condições locais. A interação mais crucial de sua ecologia é com a água, que atua como seu principal e mais eficiente agente de dispersão. Este processo é conhecido como hidrocoria. Os frutos lenhosos e ocos, ao caírem da árvore, flutuam na água como pequenas canoas. Durante o período das cheias, eles são carregados pelas correntes dos rios por quilômetros, ou até centenas de quilômetros. Quando as águas começam a baixar, os frutos encalham nas praias e barrancos recém-expostos. A umidade do lodo e a alta luminosidade desses locais são as condições ideais para que a semente germine e uma nova plântula se estabeleça. Este mecanismo garante o fluxo gênico entre populações distantes e a colonização contínua de novas margens. Além de sua própria dispersão, os araparias criam um habitat fundamental para a fauna. Suas copas sobre a água oferecem abrigo para aves e macacos, e suas raízes submersas e a sombra que projetam criam um ambiente vital para a reprodução e a proteção de inúmeras espécies de peixes. O Arapari é, literalmente, um construtor de ecossistemas.

Usos e Aplicações do Arapari

O Macrolobium acaciifolium é uma árvore cujo maior valor reside em seus serviços ecossistêmicos e em seus usos locais, adaptados à sua natureza e à cultura dos povos da Amazônia. O uso mais importante do Arapari é na restauração ecológica de matas ciliares e áreas de inundação. Por ser a espécie mais adaptada e dominante desses ambientes, seu plantio é a estratégia mais eficaz e inteligente para a recuperação de margens de rios e lagos que foram desmatadas ou erodidas. Seu denso sistema radicular ajuda a estabilizar o solo e a prevenir o desbarrancamento, e sua copa protege as margens e cria o habitat aquático necessário para a fauna. O plantio de Arapari é uma técnica de bioengenharia natural para a proteção de nossos recursos hídricos na Amazônia.

A madeira do Arapari é classificada como de densidade média e possui uma boa durabilidade, especialmente quando não está em contato direto com o solo. É utilizada localmente na construção de casas rústicas, como vigas, caibros e ripas. No entanto, seu principal uso como combustível é notável: a madeira do Arapari é conhecida por produzir um carvão vegetal de altíssima qualidade, com alto poder calorífico e que produz pouca fumaça, sendo muito valorizado pelas comunidades locais. Suas flores, embora não produzam uma grande quantidade de néctar, são visitadas por abelhas e outros insetos, contribuindo para a manutenção dos polinizadores locais. Para a fauna, os arapariais são verdadeiros santuários. Eles servem de refúgio e área de alimentação para o peixe-boi-da-amazônia, para capivaras, ariranhas e uma infinidade de peixes, que se abrigam entre suas raízes durante as cheias. No paisagismo, o Arapari tem um potencial imenso para projetos que incluem grandes lagos, rios ou espelhos d’água, onde pode ser plantado diretamente na margem para criar um efeito natural e integrado com a paisagem aquática. Sua folhagem delicada e sua forma de crescimento sobre a água são de grande valor ornamental. Cultivar o Arapari é, portanto, um ato de cuidado com as águas. É escolher uma planta que trabalha incansavelmente para proteger as margens dos rios e para sustentar a riquíssima vida que depende desses ambientes.

Cultivo & Propagação do Arapari

O cultivo do Arapari é um processo que busca replicar as condições únicas de seu habitat de floresta inundável, sendo uma tarefa para viveiristas e restauradores especializados na flora amazônica. A propagação da Macrolobium acaciifolium é feita exclusivamente por sementes, que estão contidas dentro de seus frutos lenhosos. O primeiro passo é a coleta dos frutos, que pode ser feita quando eles caem naturalmente na água ou encalham nas margens dos rios durante a vazante. É preciso quebrar a vagem dura para extrair a semente, que é grande e de casca fina.

As sementes de Arapari são consideradas recalcitrantes, ou seja, elas perdem a viabilidade muito rapidamente se forem secas ou armazenadas por longos períodos. A semeadura deve ser feita o mais breve possível após a coleta. Elas não costumam apresentar uma dormência tegumentar forte, mas a imersão em água por 24 a 48 horas pode ajudar a acelerar e a uniformizar a germinação. A semeadura deve ser feita em recipientes individuais, como saquinhos plásticos, utilizando um substrato que simule o lodo rico em matéria orgânica das margens dos rios. Uma mistura de terra argilosa e composto orgânico é uma boa opção. A semente deve ser enterrada a uma profundidade de 2 a 3 cm. Os recipientes devem ser mantidos em um local de meia-sombra a sol pleno, e o mais importante: o substrato deve ser mantido constantemente úmido ou até mesmo encharcado. A falta de água é o principal fator de insucesso no cultivo das mudas. A germinação geralmente ocorre entre 30 e 60 dias. O desenvolvimento das mudas é considerado moderado. Elas devem permanecer no viveiro até atingirem um porte de 30 a 50 cm, quando estarão prontas para o plantio no local definitivo. O plantio deve ser realizado em margens de rios, lagos ou em áreas que sofram inundação periódica, pois a planta necessita deste regime hídrico para prosperar. O cultivo do Arapari é um desafio que nos conecta com o pulso das águas amazônicas e nos permite participar ativamente da proteção e da restauração de um dos ecossistemas mais importantes e ameaçados do nosso planeta.

Referências

• Cowan, R. S. (1953). A taxonomic revision of the genus *Macrolobium* (Leguminosae–Caesalpinioideae). *Memoirs of the New York Botanical Garden*, 8(4), 257–342. (Nota: Monografia de referência para o gênero).
Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>. Acesso contínuo para a verificação da nomenclatura oficial, sinônimos e distribuição geográfica da espécie *Macrolobium acaciifolium*.
• Pires, J. M., & Prance, G. T. (1985). The vegetation types of the Brazilian Amazon. In: Prance, G. T., & Lovejoy, T. E. (Eds.). *Amazonia*. Key Environments. Oxford: Pergamon Press. p. 109-145. (Nota: Descreve os ecossistemas de Igapó e Várzea onde a espécie ocorre).
• Parolin, P. (2002). Life history and environment of Caesalpinioideae (*Leguminosae*) in the Amazonian inundation forests. *Amazoniana*, 17(1/2), 193-200. (Nota: Discute a ecologia de leguminosas de áreas alagadas, incluindo *Macrolobium*).
• Artigos científicos sobre a ecologia de florestas de igapó e de várzea, e sobre a dispersão de sementes por hidrocoria, disponíveis em bases de dados como SciELO e Google Scholar.

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