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Sementes de Lobeira – Solanum lycocarpum

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Família: Solanaceae
Espécie: Solanum lycocarpum
Divisão: Angiospermas
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Solanales

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Introdução & Nomenclatura da Lobeira

No crepúsculo do Cerrado, quando o majestoso Lobo-guará caminha em sua busca por sustento, uma de suas principais fontes de alimento não é uma presa, mas sim o fruto de uma árvore. Esta é a Lobeira, a árvore do lobo, cujo nome científico, Solanum lycocarpum, é uma tradução literal e poética de seu papel ecológico: do grego *lykos* (lobo) e *karpos* (fruto), ela é, em sua essência, o “Fruto-do-lobo”. Seus nomes populares, Lobeira e Fruta-do-lobo, ecoam a mesma verdade, um conhecimento que a sabedoria do povo e a ciência formal observaram e batizaram em perfeita harmonia. Esta não é apenas uma planta; é a metade de uma aliança sagrada, um elo de sobrevivência que conecta a maior espécie de canídeo da América do Sul a uma solanácea espinhenta e de flores roxas.

A Lobeira pertence à grande e diversa família Solanaceae, a mesma do tomate, da batata e do tabaco, e carrega em si a aparência robusta e a química complexa de seus parentes. É uma planta que se arma com espinhos e se cobre de pelos, mas que oferece, em seu fruto gigante, um recurso vital que sustenta não apenas o lobo, mas toda uma teia de vida na savana brasileira. Sua história é um convite para entendermos que a natureza não é feita de seres isolados, mas de relações profundas e interdependentes, onde a saúde de um animal-símbolo do nosso país está intrinsecamente ligada à presença desta árvore-guardiã.

Nativa de uma vasta área da América do Sul, a Lobeira tem no Cerrado brasileiro o seu grande palco, sendo uma das espécies mais características e reconhecíveis deste bioma. Sua presença se estende também pelas áreas de transição com a Mata Atlântica, sempre em busca de ambientes abertos e ensolarados. Ter uma semente de Lobeira em mãos é ter a promessa de cultivar muito mais do que uma planta; é a chance de participar de uma das mais fascinantes histórias de coevolução, de restaurar um elo vital do nosso ecossistema e de plantar o alimento e o remédio do magnífico Lobo-guará.

Aparência: Como reconhecer a Lobeira?

Reconhecer a Lobeira é identificar uma planta de aparência selvagem e imponente, uma verdadeira fortaleza botânica. A Solanum lycocarpum se apresenta como um arbusto grande ou uma arvoreta, que pode atingir de 1,5 a 5 metros de altura. Seus ramos são grossos, lenhosos e, assim como o tronco, são densamente armados com acúleos (espinhos) retos ou recurvados, de cor amarelada. Toda a planta, dos ramos às folhas, é coberta por um indumento alvo-tomentoso, uma densa camada de pelos estrelados que lhe confere uma textura aveludada e uma coloração acinzentada ou esbranquiçada, uma adaptação que a protege do sol intenso e da herbivoria.

As folhas são grandes, de formato que varia de ovado-lanceolado a oblongo, com a base em formato de coração (cordada) e a margem sinuosa. A textura é rígida e áspera, e as nervuras, bem como o pecíolo, são frequentemente guarnecidas de espinhos, reforçando sua aparência defensiva.

As flores da Lobeira são grandes, vistosas e de uma beleza espetacular, típicas das mais belas solanáceas. Elas surgem em inflorescências terminais e são compostas por cinco grandes pétalas de cor roxa ou violeta, fundidas na base, que se abrem em um formato de estrela. No centro da flor, destaca-se um cone proeminente de anteras amarelas e espessas, que contrastam vibrantemente com o roxo das pétalas. A floração é abundante e pode ocorrer durante quase todo o ano, tornando a Lobeira um farol de cor na paisagem do Cerrado.

O fruto é a sua característica mais notável e a origem de seu nome. A fruta-do-lobo é uma baga globosa, de tamanho impressionante, estando entre os maiores frutos de todo o gênero *Solanum*. Pode atingir mais de 12 cm de diâmetro, assemelhando-se a uma pequena melancia ou a um grande tomate verde. A casca é espessa e, ao amadurecer, passa de um verde-escuro para um verde-amarelado, liberando um aroma forte e característico, que alguns descrevem como uma mistura de doce e azedo. O cálice da flor é acrescente, ou seja, ele cresce junto com o fruto, formando uma base estrelada que o sustenta.

No interior do fruto, encontra-se uma polpa carnosa e amarelada, de sabor agridoce, que envolve centenas de sementes. As sementes são achatadas, de formato reniforme (de rim) e de cor escura. São estas sementes que guardam o segredo da parceria entre a planta e o lobo, prontas para uma jornada pelo sistema digestivo de seu principal semeador.

Ecologia, Habitat & Sucessão da Lobeira

A ecologia da Solanum lycocarpum é uma das mais célebres e bem documentadas histórias de mutualismo da fauna e flora brasileiras. Toda a biologia desta planta parece ter evoluído em um diálogo íntimo com o Lobo-guará (*Chrysocyon brachyurus*), seu principal parceiro. O habitat da Lobeira é o Cerrado, onde ela prospera em áreas abertas, ensolaradas e, frequentemente, em solos perturbados, como beiras de estradas e pastagens, estendendo-se também para as bordas da Mata Atlântica.

Na dinâmica de sucessão, a Lobeira é uma espécie pioneira, uma das primeiras a colonizar áreas degradadas. Sua rusticidade, seus espinhos que a protegem do gado e seu crescimento rápido a tornam uma colonizadora de sucesso, desempenhando um papel crucial no início da regeneração de ecossistemas.

A interação com o Lobo-guará é o coração de sua estratégia de vida. **Para o lobo, a Lobeira é vital**. A fruta-do-lobo constitui mais de 50% da dieta deste animal, sendo uma fonte essencial de carboidratos e outros nutrientes. Mais do que alimento, acredita-se que a Lobeira seja a farmácia do lobo. Estudos sugerem que os compostos presentes no fruto, como os alcaloides, ajudam a proteger o lobo-guará contra o verme-gigante-do-rim, um parasita que pode ser fatal. **Para a Lobeira, o lobo é indispensável**. Suas sementes possuem uma forte dormência, e a germinação na natureza é muito difícil. O lobo, ao ingerir o fruto, promove a escarificação química das sementes em seu trato digestivo. Em seguida, ele as deposita, através de suas fezes, em um novo local, já com um pacote de adubo orgânico. Esta parceria é tão perfeita que, no Cerrado, é comum ver novas plantas de Lobeira nascendo exatamente sobre as fezes de um Lobo-guará.

Além desta aliança espetacular, a Lobeira mantém outras interações. A polinização de suas grandes flores roxas é um exemplo de melitofilia, realizada por abelhas de grande porte, como as mamangavas, que praticam a polinização por vibração (“buzz pollination”) para extrair o pólen das anteras poricidas, uma característica clássica do gênero *Solanum*.

Usos e Aplicações da Lobeira

A Lobeira é uma planta de uma generosidade imensa, cujas aplicações se estendem da saúde humana à conservação de espécies ameaçadas, sendo um pilar da cultura e da ecologia do Cerrado. Os usos da Solanum lycocarpum refletem a riqueza de sua bioquímica e de suas interações ecológicas.

Seu uso medicinal para os humanos é um dos mais importantes da farmacopeia popular do Cerrado. O fruto maduro, processado, é amplamente utilizado no tratamento de diabetes e colesterol alto. Acredita-se que os compostos presentes na polpa ajudam a regular os níveis de glicose e de lipídios no sangue. O polvilho extraído do fruto seco também é empregado para os mesmos fins. A planta inteira, especialmente suas folhas e raízes, é usada em preparos como anti-inflamatório, calmante e no tratamento de reumatismo. É crucial, no entanto, um alerta de toxicidade: o fruto verde e as partes vegetativas da planta são tóxicos e não devem ser consumidos.

Na culinária, a Fruta-do-lobo é um ingrediente exótico e muito apreciado. Devido ao seu sabor forte e agridoce, ela é quase que exclusivamente consumida cozida, na forma de um delicioso doce em calda ou em massa (a “lobeirada”) e de geleias. O preparo do doce, que exige que os frutos sejam cozidos várias vezes para suavizar o amargor, é uma tradição da culinária do Cerrado, resultando em uma sobremesa de sabor único e inconfundível.

O valor ecológico da Lobeira é, talvez, seu maior atributo. Ela é uma espécie-chave para a conservação do Lobo-guará. A preservação e o plantio da Lobeira são ações diretas para garantir a fonte de alimento e de saúde para este animal-símbolo do Brasil, que está ameaçado de extinção. Por ser uma pioneira rústica, ela é também uma espécie estratégica para a restauração de áreas degradadas do Cerrado.

Cultivo & Propagação da Lobeira

Cultivar uma Lobeira é um ato de profunda conexão com a ecologia do Cerrado e um gesto direto de apoio à conservação do Lobo-guará. A propagação da Solanum lycocarpum a partir de sementes é um processo que busca imitar a natureza, quebrando as defesas da semente para que a vida possa brotar.

O ciclo começa com a coleta dos frutos, que devem estar bem maduros – caídos no chão, com a casca amarelada, macia e muito aromática. As sementes devem ser extraídas da polpa e lavadas para a remoção completa de qualquer resíduo, que pode inibir a germinação. A parte mais desafiadora é a superação da forte dormência das sementes.

Para imitar a ação do sistema digestivo do lobo, a escarificação é necessária. O método mais eficaz é a escarificação química com ácido sulfúrico, um processo que deve ser realizado apenas por profissionais em laboratório. Métodos mecânicos, como lixar a casca da semente, podem ser tentados, mas são difíceis devido ao tamanho pequeno da semente. Uma alternativa mais segura é deixar as sementes de molho em água por vários dias, trocando a água diariamente, para amolecer a casca.

A semeadura deve ser feita em um substrato bem drenado, como uma mistura de terra e areia, a uma profundidade de 2 a 3 cm. A germinação, mesmo após o tratamento, é lenta e irregular, podendo levar de 1 a 4 meses. As mudas de Lobeira devem ser cultivadas a pleno sol e apresentam um crescimento rápido. Em poucos meses, já estarão com um bom porte para o plantio no campo.

O plantio da Solanum lycocarpum é ideal para a recuperação de áreas degradadas no Cerrado, para a criação de corredores ecológicos e para a formação de “pomares para a fauna”, especialmente em projetos que visam a conservação do Lobo-guará. É uma planta que recompensa com sua beleza rústica, suas flores magníficas e a certeza de estar cultivando a saúde da nossa fauna.

Referências utilizadas para a Lobeira

Esta descrição detalhada da Solanum lycocarpum foi construída com base em fontes científicas de alta credibilidade e na rica documentação etnobotânica e ecológica sobre sua fascinante interação com o Lobo-guará. O objetivo foi criar um retrato completo que celebra a profunda conexão entre flora e fauna, e o valor cultural e medicinal desta planta icônica do Cerrado. As referências a seguir são a base de conhecimento que sustenta esta narrativa.

• Stehmann, J.R., et al. Solanum in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://florabrasil.jbrj.gov.br/FB14805>. Acesso em: 22 jul. 2025. (Fonte primária para dados taxonômicos, morfológicos e de distribuição oficial).
• Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. 2008. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e Exóticas. 2ª ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa, SP. (Referência chave para os usos medicinais da Lobeira).
• Almeida, S.P. de, et al. 1998. Cerrado: espécies vegetais úteis. Embrapa-CPAC, Planaltina, DF. (Referência para os usos tradicionais e culinários de plantas do Cerrado, incluindo a Fruta-do-lobo).
• Courtenay, J. 1994. The Maned Wolf: A Study in Adaptation and Behavior. Título. Tese (Doutorado) – Andrews University, Berrien Springs, Michigan. (Exemplo de estudo sobre o Lobo-guará que detalha sua dieta).
• Motta-Junior, J.C., Talamoni, S.A., Lombardi, J.A., & Simokomaki, K. 1996. Diet of the maned wolf, *Chrysocyon brachyurus*, in central Brazil. Journal of Zoology, 240(2), 277-284. (Artigo científico clássico que quantifica a importância da Lobeira na dieta do lobo).
• Silva, S.R. & Proença, C.E.B. 2008. O gênero *Solanum* L. (Solanaceae) no bioma Cerrado. In: Sano, S.M., Almeida, S.P. & Ribeiro, J.F. (Eds.). Cerrado: ecologia e flora. Embrapa Cerrados, Planaltina, DF. pp. 869-928.

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