Introdução & Nomenclatura do Cedro
Na grande e nobre família das árvores brasileiras, poucas possuem um nome tão universalmente reconhecido e uma madeira tão historicamente cobiçada quanto o Cedro, cientificamente conhecido como Cedrela odorata. Quando os primeiros europeus chegaram às Américas e se depararam com esta árvore majestosa, o aroma intenso e agradável de sua madeira lhes remeteu imediatamente aos famosos e sagrados cedros do Velho Mundo, os cedros-do-líbano (*Cedrus libani*). E assim, por analogia e por admiração, batizaram esta joia tropical de Cedro. Embora botanicamente não sejam parentes próximos, o nosso Cedro tropical e o Cedro bíblico compartilham uma nobreza que transcende a classificação: a de uma madeira aromática, durável e de grande valor. Os nomes populares que a espécie recebe pelo Brasil, como Cedro-rosa, Cedro-vermelho ou Cedro-branco, geralmente se referem às sutis variações na tonalidade de seu cerne, mas todos carregam o mesmo selo de qualidade e de respeito.
A nomenclatura científica, Cedrela odorata L., é uma descrição precisa de sua essência. O gênero Cedrela é uma forma diminutiva de *Cedrus*, o nome latino do cedro verdadeiro, reforçando a ideia de um “pequeno cedro” ou o “cedro do Novo Mundo”. O epíteto específico, odorata, vem do latim e significa “odorífera” ou “perfumada”, uma referência direta e inequívoca ao aroma característico e marcante de sua madeira, de suas folhas e de suas flores. A espécie foi descrita por ninguém menos que Carl Linnaeus, o pai da taxonomia moderna. Sua vasta distribuição por toda a América Latina e sua variabilidade resultaram em uma longa lista de sinônimos, como *Cedrela mexicana* e *Cedrela paraguariensis*, que hoje são todos reconhecidos como parte da mesma e grandiosa espécie. Estudar o Cedro é, portanto, uma jornada pela história da exploração e da valorização dos recursos naturais do nosso continente. Mas é também, e com urgência, uma lição sobre conservação. Devido à exploração intensa e descontrolada ao longo de séculos, o Cedro hoje se encontra em situação de vulnerabilidade, sendo uma espécie protegida por acordos internacionais. Cada semente de Cedro que plantamos é um ato de redenção, um gesto para garantir que o perfume nobre desta árvore continue a fazer parte do futuro de nossas florestas.
Aparência: Como reconhecer o Cedro
A identificação do Cedro na paisagem é o reconhecimento de uma árvore de porte majestoso e de uma elegância que se revela na arquitetura de sua copa e na delicadeza de sua folhagem. A Cedrela odorata é uma árvore de grande porte, de crescimento rápido, que pode atingir de 20 a 35 metros de altura. O tronco é um de seus maiores atributos: é notavelmente reto, alto e cilíndrico, podendo alcançar mais de 1 metro de diâmetro. Em árvores mais velhas, a base do tronco pode apresentar sapopemas (raízes tabulares) de pequeno porte. A casca é grossa, de cor cinza-escuro a castanho, e com profundas fissuras longitudinais que formam um padrão reticulado, conferindo-lhe um aspecto robusto e imponente. A copa é ampla, globosa e muito ornamental, proporcionando uma sombra agradável.
A folhagem do Cedro é de uma beleza exuberante. As folhas são compostas paripenadas (embora às vezes possam ter um folíolo terminal, sendo imparipinadas), grandes, com 7 a 11 pares de folíolos. Os folíolos são de formato lanceolado a falcado (em forma de foice), com o ápice pontiagudo e a base assimétrica. A textura é firme e a coloração é de um verde-intenso. A árvore é decídua, perdendo suas folhas durante a estação seca, um período que geralmente antecede a sua floração. A floração, que ocorre entre o final do inverno e o início da primavera, é discreta, mas muito perfumada. As flores são pequenas, de cor creme a esverdeada, e se agrupam em grandes inflorescências (panículas) que surgem com as folhas novas. Embora não tenham o apelo visual das flores de um ipê, seu perfume suave atrai uma grande variedade de insetos polinizadores. O fruto é o que revela de forma mais espetacular a sua identidade. É uma cápsula lenhosa, de formato oblongo a elipsoide, com 2 a 5 cm de comprimento. Quando maduro, o fruto seca e se abre na árvore em cinco partes (valvas), assumindo a forma de uma bela flor de madeira. Desta “flor” aberta, liberam-se as sementes, que são uma obra de arte da engenharia aerodinâmica. Cada semente é pequena, mas possui uma longa asa membranosa, projetada para planar e girar com o vento, garantindo sua dispersão por longas distâncias.
Ecologia, Habitat & Sucessão do Cedro
A ecologia da Cedrela odorata é a de uma espécie de uma plasticidade e de uma capacidade de adaptação impressionantes, o que explica sua presença em quase todos os cantos do Brasil. O Cedro é uma das árvores nativas de mais ampla distribuição nas Américas, ocorrendo desde o México até a Argentina. No Brasil, ele é um verdadeiro cidadão de múltiplos biomas, sendo encontrado na Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Esta incrível versatilidade o permite habitar os mais diversos tipos de vegetação, desde as Florestas Ombrófilas úmidas da Amazônia e da Mata Atlântica, até as Florestas Estacionais Deciduais e Semideciduais mais secas, e até mesmo na Caatinga (em áreas de maior altitude e umidade) e nas matas de galeria do Cerrado. É uma árvore que prefere solos férteis, profundos e bem drenados, mas que demonstra uma grande tolerância a diferentes condições. Sua principal exigência ecológica é a luz.
No que tange à sucessão ecológica, o Cedro é classificado como uma espécie pioneira de grande porte a secundária inicial. Sua estratégia de vida é a da colonização de áreas abertas e a da velocidade. Suas sementes leves e aladas são perfeitamente adaptadas para a dispersão pelo vento (anemocoria), o que lhes permite alcançar clareiras e áreas desmatadas com grande eficiência. Ao encontrar um local com luz solar plena, a semente germina e a plântula inicia um processo de crescimento muito rápido. Esta velocidade permite que o Cedro se estabeleça rapidamente, sombreie o solo e compita com plantas invasoras, funcionando como uma “árvore-berçário” que cria as condições para a regeneração de espécies de estágios mais avançados da sucessão. A polinização de suas flores é realizada por uma variedade de pequenos insetos, como abelhas e mariposas. Uma interação ecológica importante e que representa o maior desafio para o seu cultivo é a sua relação com a mariposa *Hypsipyla grandella*, cujas larvas, conhecidas como broca-do-cedro, atacam o broto principal da árvore, causando bifurcações e prejudicando a formação de um fuste reto e comercializável. Na natureza, em meio à diversidade da floresta, os ataques são menos frequentes. Em plantios puros (monoculturas), no entanto, a broca pode causar grandes prejuízos.
Usos e Aplicações do Cedro
A Cedrela odorata é uma das árvores madeireiras mais importantes e historicamente valorizadas das Américas, com uma gama de aplicações que vai da marcenaria de luxo à construção naval. O principal uso do Cedro é, sem dúvida, o de sua madeira. A madeira de Cedro é mundialmente famosa por uma combinação única de qualidades: ela é relativamente leve, muito macia e fácil de ser trabalhada, mas ao mesmo tempo é moderadamente durável e extremamente estável (não empena nem racha com as variações de umidade). Sua característica mais notável, no entanto, é o seu aroma forte e agradável, devido à presença de óleos essenciais em sua composição. Este aroma não é apenas um deleite para o olfato; ele confere à madeira uma resistência natural ao ataque de cupins e outros insetos.
Esta combinação de características fez da madeira de Cedro a escolha por excelência para a marcenaria fina. É a madeira tradicional para a fabricação de caixas de charuto de alta qualidade, pois seu aroma complementa o do tabaco. É amplamente utilizada na produção de móveis finos, armários embutidos, portas, janelas, painéis decorativos e esculturas. Na luteria, é empregada na confecção de partes de instrumentos musicais, como braços de violão. Na construção naval, sua leveza e resistência à umidade a tornam ideal para a construção de barcos e canoas. Devido a este imenso valor comercial, o Cedro foi explorado de forma intensa e muitas vezes predatória por séculos, o que levou à drástica redução de suas populações naturais. Hoje, a espécie está incluída no Apêndice II da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção), o que significa que seu comércio internacional é controlado para evitar uma exploração insustentável. Na medicina popular, a casca amarga do Cedro é utilizada em chás como febrífugo e tônico. Na restauração ecológica, seu papel como pioneira de crescimento rápido é muito importante, embora o desafio da broca-do-cedro deva ser considerado. O plantio de Cedro hoje é mais do que uma atividade econômica; é um ato de conservação, uma forma de garantir que este patrimônio continue a existir para o futuro.
Cultivo & Propagação do Cedro
O cultivo do Cedro é uma das atividades mais promissoras da silvicultura de espécies nativas, seja para a produção de sua madeira nobre, seja para a restauração de ecossistemas. A propagação da Cedrela odorata é feita por sementes, que são produzidas em grande quantidade e germinam com extrema facilidade, refletindo sua natureza de pioneira. O primeiro passo é a coleta das sementes, que deve ser feita quando os frutos lenhosos em forma de “flor de madeira” se abrem na árvore, liberando as sementes aladas. A coleta pode ser feita diretamente na árvore ou recolhendo as sementes do chão, logo após a dispersão pelo vento.
Uma das maiores vantagens do Cedro é que suas sementes frescas não apresentam dormência e possuem uma altíssima taxa de germinação. O plantio deve ser feito logo após a coleta, pois as sementes perdem a viabilidade relativamente rápido. A semeadura pode ser realizada em sementeiras ou em recipientes individuais, como tubetes. O substrato deve ser leve e bem drenado. As sementes aladas devem ser dispostas na posição horizontal e cobertas com uma camada muito fina de substrato (cerca de 0,5 cm). O local deve ser de sol pleno, pois a espécie necessita de muita luz. A germinação é muito rápida, ocorrendo geralmente entre 7 e 15 dias. O desenvolvimento das mudas é extremamente rápido. Em apenas 3 a 5 meses, as mudas já atingem de 25 a 40 cm e estão prontas para o plantio no campo. O plantio definitivo deve ser realizado no início da estação chuvosa. A grande questão no cultivo do Cedro é o manejo da broca-do-cedro (*Hypsipyla grandella*). Em plantios puros (monoculturas), o ataque da broca pode ser severo, prejudicando a formação do tronco principal. A melhor estratégia para mitigar este problema é o plantio em sistemas mistos, como os sistemas agroflorestais ou os plantios de restauração com alta diversidade de espécies. A presença de outras árvores dificulta a localização do Cedro pela mariposa e favorece a presença de inimigos naturais da broca. Cultivar o Cedro de forma consorciada é, portanto, a forma mais inteligente e sustentável de produzir sua madeira preciosa e de contribuir para a saúde do ecossistema.
Referências
• Pennington, T. D., & Muellner, A. N. (2010). A Monograph of Cedrela (Meliaceae). Milborne Port, UK: dh books. (Nota: A monografia de referência para o gênero).
• Lorenzi, H. (2002). Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil, Vol. 1. 4ª ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum.
• Carvalho, P. E. R. (2003). Espécies Arbóreas Brasileiras, Vol. 1. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo, PR: Embrapa Florestas.
• Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>. Acesso contínuo para a verificação da nomenclatura oficial, sinônimos e da vasta distribuição geográfica da espécie.
• Publicações da Embrapa Florestas e de outras instituições de pesquisa florestal sobre a silvicultura do Cedro e o manejo da broca *Hypsipyla grandella*.
• Listas oficiais de espécies ameaçadas, como a da CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora), que regulamenta o comércio do Cedro.














